terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Carta aberta ao governador do Estado Paulo Câmara.

Intervenção da FIP PRAIEIRA na praça do Marco Zero, 11 de janeiro


Recife, 16 de janeiro de 2015.

Nas propagandas eleitorais de 2014, o senhor, então candidato a governador de Pernambuco, utilizou como uma das principais bandeiras da sua campanha a questão da mobilidade urbana. Prometeu um sistema de bilhete e tarifa únicos para os ônibus na Região Metropolitana do Recife (RMR), o que permitiria que, durante três horas, os usuários pegassem a quantidade de ônibus necessária pagando apenas uma passagem, sem precisar se deslocar até os Terminais Integrados (TIs). Em campanha, o senhor afirmou que essa tarifa única seria R$2,15, valor do anel A, e que as tarifas B e D seriam extintas. Em entrevista à mídia corporativa, previu que, com o BRT em funcionamento e os 25 terminais integrados prontos (sete ainda estavam em construção) até o final do ano, o governo do Estado teria fôlego para desembolsar cerca de R$ 8 milhões mensais para garantir a proposta da tarifa única. Segundo o senhor, os cálculos foram pensados para não haver aumento de passagem. 

Poucos meses depois da sua campanha, relembramos, com detalhes, todas essas promessas porque nos parece que o senhor pode não recordá-las. Ao contrário do que foi prometido, a passagem aumentou 13,95%, com a alegação do seu Secretário de Cidades de que se trata de algo inevitável. Essa medida do governo, além de se configurar como claro estelionato eleitoral, é um desrespeito com todos os usuários do sistema de transporte – o qual, infelizmente, não podemos denominar “público”. A população está pagando ainda mais caro por um transporte que, todos os dias, nos deixa a mercê de experiências sofríveis: grande tempo de espera dos ônibus, coletivos lotados, falta de linhas que contemplem a necessidade de deslocamento das pessoas, Terminais Integrados desorganizados, fraudes nos números de viagens dos ônibus, e até violência por parte dos contratados para organizar o caos do embarque de passageiros nos coletivos. O governo não garante às pessoas um deslocamento digno para o trabalho, para a escola e para espaços diversos, e ainda aumenta o valor de um serviço de péssima qualidade. 

Ao contrário do que foi dito em campanha, a prioridade de seu governo recém-empossado não parece ser o bem estar da população. Nosso transporte “público” humilha o cidadão e está nas mãos de empresários cujo objetivo maior é apenas o lucro, não o atendimento à população. Em 2013, após 10 anos de promessa de um novo edital de licitação das linhas de ônibus do Grande Recife, o então governador Eduardo Campos lançou o documento. No entanto, precisou revê-lo, pois o mesmo foi boicotado pelos empresários: havia muita exigência para pouco retorno financeiro. Invertemos agora o quadro e, como usuários do transporte público, questionamos o aumento das passagens e a qualidade dos serviços, visto que há muito retorno financeiro para poucas exigências. Seremos escutados? Além disso, no dia 3 de dezembro de 2014, entrou em vigor uma lei que obriga todos os ônibus a terem acessibilidade. Os empresários tiveram 10 anos para se adaptar às exigências da lei, mas dados do próprio Consórcio revelam que, na RMR, apenas 66% dos veículos cumprem a legislação. E tais dados ainda maquiam a realidade, visto que não há garantia de acessibilidade em um ônibus lotado. O que justifica, portanto, o reajuste da tarifa? 

Dirigimo-nos diretamente ao senhor, pois acreditamos que lhe cabe cumprir com os compromissos assumidos em campanha. Somos mais do que eleitores, governador. Somos cidadãos, exigimos qualidade de vida e acesso à cidade por inteiro. O transporte é um direito pressuposto, muitas vezes, para a garantia de diversos outros direitos negados sistematicamente à mesma parcela da população que acreditou em suas promessas de campanha. Nesse sentido, exigimos a revogação imediata do reajuste das tarifas e do aumento concedido aos empresários. É o mínimo que se pode fazer para que o senhor não entre para a história de Pernambuco como um mentiroso. 

Destacamos ainda que a revogação do aumento não basta. Defendemos também gratuidade para estudantes e desempregados como um passo importante na transição do atual sistema de transporte privatizado para um transporte efetivamente público, de qualidade e eficiente. É importante, a longo prazo, garantir a Tarifa Zero; trata-se de um investimento muito menor do que os gastos que governo tem com a construção de vias, pontes e viadutos que só beneficiam construtoras, bancos, empreiteiras e uma pequena parcela da população. A escolha pela carrocracia e pelo transporte privatizado é uma opção política que deve ser questionada. Partimos do pressuposto de que o transporte é um direito, e não uma mercadoria. Exigimos, portanto, a garantia de todos os nossos direitos. Exigimos Passe Livre sem restrições. 

Por um Mundo sem catracas! Passe Livre já! 

Frente Independente Popular de Pernambuco – FIP PE

Nenhum comentário:

Postar um comentário