Intervenção da FIP PRAIEIRA na praça do Marco Zero, 11 de janeiro |
Recife, 16 de janeiro de 2015.
Nas
propagandas eleitorais de 2014, o senhor, então candidato a governador
de Pernambuco, utilizou como uma das principais bandeiras da sua
campanha a questão da mobilidade urbana. Prometeu um sistema de bilhete e
tarifa únicos para os ônibus na Região Metropolitana do Recife (RMR), o
que permitiria que, durante três horas, os usuários pegassem a
quantidade de ônibus necessária pagando apenas uma passagem, sem
precisar se deslocar até os Terminais Integrados (TIs). Em campanha, o
senhor afirmou que essa tarifa única seria R$2,15, valor do anel A, e
que as tarifas B e D seriam extintas. Em entrevista à mídia corporativa,
previu que, com o BRT em funcionamento e os 25 terminais integrados
prontos (sete ainda estavam em construção) até o final do ano, o governo
do Estado teria fôlego para desembolsar cerca de R$ 8 milhões mensais
para garantir a proposta da tarifa única. Segundo o senhor, os cálculos
foram pensados para não haver aumento de passagem.
Poucos meses
depois da sua campanha, relembramos, com detalhes, todas essas promessas
porque nos parece que o senhor pode não recordá-las. Ao contrário do
que foi prometido, a passagem aumentou 13,95%, com a alegação do seu
Secretário de Cidades de que se trata de algo inevitável. Essa medida do
governo, além de se configurar como claro estelionato eleitoral, é um
desrespeito com todos os usuários do sistema de transporte – o qual,
infelizmente, não podemos denominar “público”. A população está pagando
ainda mais caro por um transporte que, todos os dias, nos deixa a mercê
de experiências sofríveis: grande tempo de espera dos ônibus, coletivos
lotados, falta de linhas que contemplem a necessidade de deslocamento
das pessoas, Terminais Integrados desorganizados, fraudes nos números de
viagens dos ônibus, e até violência por parte dos contratados para
organizar o caos do embarque de passageiros nos coletivos. O governo não
garante às pessoas um deslocamento digno para o trabalho, para a escola
e para espaços diversos, e ainda aumenta o valor de um serviço de
péssima qualidade.
Ao contrário do que foi dito em campanha, a
prioridade de seu governo recém-empossado não parece ser o bem estar da
população. Nosso transporte “público” humilha o cidadão e está nas mãos
de empresários cujo objetivo maior é apenas o lucro, não o atendimento à
população. Em 2013, após 10 anos de promessa de um novo edital de
licitação das linhas de ônibus do Grande Recife, o então governador
Eduardo Campos lançou o documento. No entanto, precisou revê-lo, pois o
mesmo foi boicotado pelos empresários: havia muita exigência para pouco
retorno financeiro. Invertemos agora o quadro e, como usuários do
transporte público, questionamos o aumento das passagens e a qualidade
dos serviços, visto que há muito retorno financeiro para poucas
exigências. Seremos escutados? Além disso, no dia 3 de dezembro de 2014,
entrou em vigor uma lei que obriga todos os ônibus a terem
acessibilidade. Os empresários tiveram 10 anos para se adaptar às
exigências da lei, mas dados do próprio Consórcio revelam que, na RMR,
apenas 66% dos veículos cumprem a legislação. E tais dados ainda maquiam
a realidade, visto que não há garantia de acessibilidade em um ônibus
lotado. O que justifica, portanto, o reajuste da tarifa?
Dirigimo-nos
diretamente ao senhor, pois acreditamos que lhe cabe cumprir com os
compromissos assumidos em campanha. Somos mais do que eleitores,
governador. Somos cidadãos, exigimos qualidade de vida e acesso à cidade
por inteiro. O transporte é um direito pressuposto, muitas vezes, para a
garantia de diversos outros direitos negados sistematicamente à mesma
parcela da população que acreditou em suas promessas de campanha. Nesse
sentido, exigimos a revogação imediata do reajuste das tarifas e do
aumento concedido aos empresários. É o mínimo que se pode fazer para que
o senhor não entre para a história de Pernambuco como um mentiroso.
Destacamos
ainda que a revogação do aumento não basta. Defendemos também
gratuidade para estudantes e desempregados como um passo importante na
transição do atual sistema de transporte privatizado para um transporte
efetivamente público, de qualidade e eficiente. É importante, a longo
prazo, garantir a Tarifa Zero; trata-se de um investimento muito menor
do que os gastos que governo tem com a construção de vias, pontes e
viadutos que só beneficiam construtoras, bancos, empreiteiras e uma
pequena parcela da população. A escolha pela carrocracia e pelo
transporte privatizado é uma opção política que deve ser questionada.
Partimos do pressuposto de que o transporte é um direito, e não uma
mercadoria. Exigimos, portanto, a garantia de todos os nossos direitos.
Exigimos Passe Livre sem restrições.
Por um Mundo sem catracas! Passe Livre já!
Frente Independente Popular de Pernambuco – FIP PE